sábado, 18 de fevereiro de 2012

O modelo de culto adoração, e sacrifício conforme Abraão

Por: Jânio Santos de Oliveira
Presbítero e professor de teologia da Igreja Assembléia de Deus Taquara - Duque de Caxias- Rio de Janeiro
estudosbiblicosdesantificaao.blogspot.com


Meus amados e queridos irmãos em Cristo Jesus, a Paz do Senhor!

"E disse: Toma agora o teu filho, o teu único filho, Isaque, a quem amas, e vai-te à terra de Moriá, e oferece-o ali em holocausto sobre uma das montanhas, que eu te direi.

“Ao terceiro dia levantou Abraão os seus olhos, e viu o lugar de longe” (Gn 22:2, 4).

Por qual razão Deus mandou Abraão sacrificar Isaque a três dias de distância do lugar onde ele estava? Por que será que o Senhor não indicou um local mais próximo? Ele não poderia ter apontado outra montanha naquela redondeza? Não havia naquelas proximidades um local propício para um ato deste tipo?

A história de Abraão é seguida de sacrifícios. Logo no começo nos surpreendemos com um mandamento estranho de “Saia daí e vá para o lugar que Eu mostrarei”. Mesmo sem saber para onde ia, Abraão adorou ao Senhor por onde passava. Erguia altares de sacrifício e tinha uma vida de verdadeira adoração. Estamos dispostos a nos sacrificar a fim de sermos verdadeiros adoradores?

Quando falamos de adoração, falamos de vida e não de coisas. Falamos de aspectos espirituais e não naturais. Falamos mais de Deus do que de nós mesmos. Portanto, o que apresentamos aqui é apenas uma visão geral de tudo aquilo que temos aprendido com o Senhor.

Quem nos ensina é Abraão, o pai da fé. Amigo de Deus. O crente Abraão. Abraão foi fiel a Deus e ouviu Sua voz, guardou Seus mandamentos, preceitos, estatutos e todas as suas leis, mesmo quando nada disso havia sido registrado. Abraão agradou a Deus e andou na Sua vontade por obediência e intimidade. (Gn 26:5)

Mesmo tendo sido presenteado com o filho da sua velhice, nascido de forma sobrenatural, o filho da promessa de uma grande nação, quando Deus solicitou a grande benção de Abraão, este não hesitou e adorou ao Senhor com tudo o que tinha.

No registro bíblico, esta é a primeira vez que a palavra adoração aparece, e para nós, está é a maior e principal ilustração do que adorar significa.

“E disse Abraão a seus moços: Ficai-vos aqui com o jumento, e eu e o moço iremos até ali; e havendo adorado, tornaremos a vós“. (Gn 22:5)

Conceitualmente, adorar significa amar em extremo. Adoração é o próprio ato de culto, motivado por um amor profundo. Mas com Abraão, aprendemos muito mais do que um conceito. Temos um exemplo prático e perfeito de adoração. Com as atitudes comprovamos (e até validamos) aquilo que adorando declaramos.

Deus sabia que Abraão amava muito a Isaque. E não era para menos. Isaque era um milagre vivo, um presente maravilhoso de Deus para Abraão que mudou radicalmente sua vida e seu destino.

Mas Deus prova Abraão no seu amor. Importa que o verdadeiro adorador ame a Deus acima de todas as coisas. E nisto Abraão foi provado.

“E disse: Toma agora o teu filho, o teu único filho, Isaque, a quem amas, e vai-te à terra de Moriá, e oferece-o ali em holocausto sobre uma das montanhas, que eu te direi“. (Gn 22:2)

Abraão foi aprovado. Ele realmente amava a Deus acima de todas as coisas. Ele já tinha experimentado um vida com Deus o suficiente para confiar nEle. Deus não é Deus de brincadeira. Para tudo tem um propósito. Abraão não sabia todos os detalhes, mas mesmo assim creu (porque creu, agiu) e isso foi-lhe imputado como justiça. Porque amou, obedeceu. Porque obedeceu, manifestou o seu temor a Deus.

“Então disse: Não estendas a tua mão sobre o moço, e não lhe faças nada; porquanto agora sei que temes a Deus, e não me negaste o teu filho, o teu único filho“. (Gn 22:12) Então podemos ver claramente um conjunto de valores que acompanha o verdadeiro adorador. Amor, obediência, temor, dentre muitos outros. Todos estão interligados e partem todos da mesma fonte. O Amor.

I. Por que Deus exigiu de Abraão o sacrifício de Isaque?

Ora, as provações não são instrumentos de medida para se mensurar a fé daqueles que professam a Cristo, antes tem o fito de ‘redundar’ em louvor, glória e honra na revelação de Cristo "Bem-aventurado o homem que suporta a tentação; porque, quando for provado, receberá a coroa da vida, a qual o Senhor tem prometido aos que o amam" ( Tg 1:12 ).

Ou seja, a provação é conforme o propósito e segundo o conselho da vontade de Deus, ‘a fim de sermos para louvor da sua glória’ ( Ef 1:11 -12). Abraão foi chamado por Deus para louvor de sua glória!

A ordem direta de Deus a Abraão para imolar Isaque fomenta várias discussões, distorções e interpretações errôneas acerca do objetivo de tal ordem.

A despeito da onisciência de Deus, muitos questionam qual o propósito de Deus em mandar Abraão imolar o seu filho. Deus queria saber até onde Abraão era obediente? Deus queria mensurar a fé de Abraão?

A resposta é simples, porém, demanda conhecimento bíblico e raciocínio. Para responder tal indagação é necessário relembrar alguns eventos específicos concernentes a vida de Abraão. Analisemos estes três pontos principais:

II. OS 4 ALTARES DE ABRAAO

 UM HOMEM QUE FOI CHAMADO “AMIGO DE DEUS”. (IS 41.8)

A vida de Abraão é um exemplo de fé e de crescimento espiritual. E o altar foi uma marca distinta na caminhada de Abraão com Deus. Nosso crescimento espiritual é descrito nas Escrituras como sendo um processo lento e contínuo para que o caráter de Cristo seja moldado em nós.

O Salmo 84:7 diz: “Vão indo de força em força…”; Rm 1.17 diz: “…de fé em fé…”; Co3.18 diz:“…somos transformados de glória em glória…”; Jo 1:16 diz: “Porque todos nós temos recebido … graça sobre graça.”

Um altar é um símbolo nas escrituras de adoração e consagração. Não edificamos um altar para nós mesmos, mas para adorar a Deus, oferecer sacrifícios a Ele e invocar o seu nome. O altar é símbolo de uma vida espiritual, uma vida com Deus.

Abraão foi chamado “amigo de Deus”, e, essa comunhão, marcada pela vida de altar, revela a essência do que é a verdadeira vida espiritual, ou seja, ela não consiste na medida de nosso conhecimento e instrução acerca das coisas de Deus, mas no quanto somos “amigos de Deus”, no quanto andamos com Deus, no quanto Deus tem-nos como seus amigos!

A primeira experiência pós-salvação deve ser a consagração – sacrifício, entrega, oferta totalmente destinada ao desfrute de Deus. Altar é lugar de sacrifício. Adoração não deve ser uma opção, que podemos decidir fazer ou não fazer, de acordo com nossos caprichos.

A resposta de uma verdadeira adoração está no compromisso com a obediência. É preciso que rendamos completamente à vontade do Senhor, o nosso ego.

Quando entregamos tudo na adoração, oferecemos a Deus os nossos planos, desejos, ambições e vontades. Entregar tudo significa “abrir mão das expectativas de tudo quanto desejamos, a fim de que Deus trabalhe em nós e através de nós.

Este ato de adoração glorifica a Deus. “O que me oferece sacrifício de ações de graças, esse me glorificará; e ao que prepara o seu caminho, dar-lhe-ei que veja a salvação de Deus” (Sl 50.23). Quando derramamos tudo na adoração, ficamos impregnados com a fragrância do perfume.

Durante a vida de fé de Abraão nós constatamos a edificação de quatro altares, erguidos no processo de sua jornada interior de conhecimento de Deus e amizade com Ele. Cada um destes altares aponta para um aspecto da obra da cruz em nossas vidas, ampliando nossa consagração, ou seja, o nosso relacionamento com Deus e nossa verdadeira espiritualidade.

A. EM SIQUÉM

(Gn 12.6, 7).
Siquém significa ombro, que é o lugar de maior força do homem. Este primeiro altar na vida de Abrão pode ser denominado o “O Altar da Revelação”. Diz o texto bíblico:“Apareceu o Senhor a Abrão… Ali edificou Abrão um altar ao Senhor que lhe aparecera.” (Gn12.7).

Na verdade Deus se apresentou a Abrão. Adoração e revelação andam juntas. Só podemos adorar o que conhecemos. Jesus disse isso à mulher samaritana (Jo 4.22).

Uma coisa interessante é ver Deus tomando a iniciativa do relacionamento com o homem. Deus se apresentou a Abrão. Altar de adoração deve fruto de um encontro com Deus.

A fé de Abrão foi ativada pela iniciativa de Deus. A soberania de Deus na salvação é belamente ilustrada no chamado de Abrão. Abrão veio de um lar pagão. Pelo nosso conhecimento, ele não tinha nenhuma qualidade espiritual que atraísse a Deus.

Deus, em Sua graça eletiva, escolheu Abrão para segui-lO, enquanto ele ainda estava em seus próprios caminhos. Abrão, como Paulo, e os verdadeiros crentes de todas as épocas, reconheceria que foi Deus Quem o procurou e o salvou, com base na Sua graça.

B. EM BETEL (Gn 12.8).

É interessante notar que Abrão edificou um altar entre Ai e Betel (Gn 12:8) e podemos chamá-lo de altar da separação. Abraão deixou Ai para trás e tinha Betel diante dele.

Betel significava “casa de Deus”. Ai, seu significado era “montão ou ruína”.

Podemos dizer que é a vida de altar, a consagração, permite que a cruz separe-nos do mundo, do amor ao mundo, de “tudo o que há no mundo” . A cruz coloca o mundo para trás de nós e mantém viva e clara diante de nós a visão da Casa de Deus (Betel)! E não somente a visão de Betel, mas a cruz operando em nós habilita-nos a participar de Betel, a “sermos edificados casa espiritual, para sermos sacerdócio santo…”( I Pe 2.5).

Deus não pula etapas em nosso relacionamento com Ele. Abrão voltou a Betel depois de passar pelo Egito. O Egito foi o lugar de sua falta de confiança na proteção divina, que o levou a mentir juntamente com sua esposa. Egito da idéia de trevas, talvez por causa da coloração das águas do Nilo. Volta a casa de Deus, lugar onde ouviu as promessas de Deus para sua vida. No Egito tem riqueza, mas não tem altar (Gn 12.10-20).

C. EM HEBROM (Gn 13.18).

Este altar foi erguido logo após um período de separação entre Abrão e seu sobrinho Ló (Gn 13.1-13).
Hebrom – Cidade montanhosa de Judá, à 36 km de Jerusalém. Os árabes a chamam de ‘elKhalîl’, “O Amigo. Podemos chamar este altar de “Altar da Comunhão ou da Aliança”.

A cruz habilita-nos a ter aquela incessante comunhão com Deus, aquela amizade com Deus, aquela vida de união com Deus ! Como já disse Madame Guyon: “O Senhor se coloca no exato lugar daquilo que Ele põe à morte em nossas vidas”. Já compreendemos isso diante do Senhor ? Ele substitui para adicionar e Ele divide para multiplicar. Quem conhece o Seu coração pode confiar em suas mãos !

Hebrom é o lugar onde Deus reafirma a sua aliança e as suas promessas:

• Depois de um conflito.

• Trazendo consolo e motivação.

• Confirmando a sua promessa de abençoar.

• Levando Abrão a decidir a olhar com os olhos de Deus.

• Altar de aliança, pois este é um dos significados de Hebrom (aliança).

D. EM MORIÁ (Gn 22.1-14).

Esse quarto altar é o da adoração, isso inclui entrega total.

Vemos aqui um homem absolutamente rendido a Deus, a ponto de sacrificar seu único e amado filho, um homem que amava a Deus a ponto de confiar em Seus caminhos, um homem tão sensível à voz de Deus que pôde discernir cada instrução de Deus em cada passo do doloroso processo de sacrifício, um homem que adorou no momento em que oferecia o que tinha de mais precioso!

Sem as marcas da cruz em nossas vidas nós adoramos a nós mesmos, nós consideramos nossas vidas e tudo que temos por demais preciosos para serem oferecidos a Deus.

Neste altar, Deus colocou a parte mais íntima e preciosa de Abraão, o próprio coração de Abraão: Isaque. Deus assim tratou com o ser mais interior de Abraão, e tornou-o um adorador.

III. A promessa de um descendente

Deus prometeu a Abraão que a sua descendência herdaria a terra que os seus olhos estavam enxergando no momento da reiteração da promessa ( Gn 13:14 ), porém, Deus ainda não havia prometido um filho a Abraão gerado por Sara.

Em face da promessa à sua ‘descendência’ ( Gn 15:1 ), Abraão ficou incomodado por não ter filho, e pretendia fazer o damasceno Eliezer, o seu servo, o seu herdeiro. Foi quando Deus prometeu a Abraão um filho de suas entranhas, sem qualquer referência a Sara, e creu Abraão e isto lhe foi imputado por justiça ( Gn 15:4 ).

Para Abraão Deus prometeu o impossível, visto que a época da promessa era de conhecimento que Sara era estéril, porém ele creu firmado no poder e na fidelidade de Deus, sendo declarado justo diante de Deus.

Apesar de Abraão crer em Deus e ser justificado, o tempo passava e ele continuava sem filho. Diante deste quadro, a mulher de Abraão resolveu providenciar filho a Abraão, e ele aceitou dar a Sara um filho através da escrava ( Gn 16:2 ).

É bem provável que Abraão tenha interpretado a atitude de sua mulher como sendo a providência divina: 1) Ismael foi gerado segundo a carne de Abraão, e; 2) o nascimento de Ismael encaixou ‘perfeitamente’ no que Deus lhe falara (um filho de suas entranhas).

Este entendimento decorre do fato de Abraão ter feito menção do nome de Ismael quando Deus reiterou a promessa: “Oxalá viva Ismael diante de ti!” ( Gn 17:18 ). Abraão já estava compreendendo que Ismael era o filho da promessa, o seu ‘primogênito’ e herdeiro.

Algum tempo depois, Abraão foi interpelado por sua mulher, que exigiu que Ismael não herdasse juntamente com Isaque. Abraão ficou temeroso, visto que Ismael seria o seu ‘primogênito’, porém, descansou em Deus quando foi orientado a esperar na providência divina e que ele não estaria fazendo nenhum mal ( Gn 21:12 ).

• O milagre

A despeito do riso de Abraão no coração, a promessa de Deus continuou de pé ( Gn 17:17 ), e no tempo determinado nasceu Isaque.

Isto demonstra que a fidelidade de Deus é a causa de Abraão ter sido justificado e abençoado segundo a promessa, visto que Abraão riu da promessa.

Em nossos dias a fé é tida como agente catalisador que desencadeia milagres, porém, o que a palavra de Deus demonstra é que a fidelidade e o poder de Deus devem ser à base da fé cristã.

Mesmo após Abraão apresentar seu servo damasceno e seu filho Ismael como opção diante de Deus, mesmo após rir da promessa, Deus permaneceu fiel à sua palavra.

Sara era estéril, de avançada idade (mais de 90 anos) e segundo a promessa de Deus concebeu Isaque. A bíblia demonstra que Abraão estava ciente das impossibilidades para se alcançar um filho com Sara:

• Um homem de cem anos;

• Sará com noventa anos;

• Sará estéril ( Gn 17:17 ).

Diante das impossibilidades, o homem ri, pois não tem idéia da dimensão do poder de Deus. Diante do mar vermelho o homem fica temeroso, pois a impossibilidade do homem fica em evidência. Diante da necessidade de salvação o homem descobre que está à mercê do pecado e da morte, porém, o que é impossível aos homens, para Deus é possível.

IV. Por que Deus exigiu o sacrifício de Isaque?

Através da análise anterior, fica demonstrado que certos eventos relatados na história de Abraão são difíceis de captar. O relato da história do patriarca Abraão não se prende a explicar certos porquês, antes se fixa somente nos fatos.

Como é possível a bíblia apontar Abraão como sendo um exemplo de fé, sendo que em determinado momento da sua vida ele riu da promessa, e apresentou uma alternativa diante de Deus? Não era para ele ter perdido a bênção neste evento?

Por que Abraão tentou ‘ajudar’ Deus cumprir a promessa através de Ismael? Uma leitura superficial da história de Abraão faz com que o leitor não perceba este detalhes de suma importância ao contexto geral das escrituras.

Outro ponto a se destacar é concernente a aliança proposta pelo rei de Sodoma. Abraão foi tentado a ajudar Deus com riquezas provenientes do fruto de suas conquistas pessoais, porém, rejeitou-a, pois entendeu que a sua prosperidade deveria ser fruto da promessa divina.

Isto é maravilhoso, porém, onde Abraão aprendeu esta lição? Se levarmos em conta o fato de Abraão ter sido expulso do Egito por causa de uma praga que sobreveio ao Faraó, veremos que neste evento ele aprendeu que rei algum seria o pivô da riqueza pertinente a sua descendência.

Se Abraão não aprendesse a lição no Egito, certamente sucumbiria diante da aliança e oferta do rei de Sodoma. Observe que o perigo rondava Abraão de perto. Se Abraão fizesse uma aliança com Sodoma, certamente diriam que:

• Sodoma foi responsável pela prosperidade de Abraão, ou;

• Abraão poderia reputar que as suas riquezas era fruto de suas conquistas pessoais.

Surge outra pergunta: havia algum risco para Abraão acerca do nascimento de Isaque, caso Deus não tivesse posto Abraão a prova. Como? Isto mesmo! Analisemos se havia algum risco para Abraão, caso ele não fosse submetido à provação.

Observe como é fácil o homem confundir-se:

É notório para nós que Isaque foi quem nasceu segundo a promessa de Deus, porém, Abraão fez menção de Ismael perante Deus, pois estava esperançoso que o filho da escrava fosse o seu herdeiro;

Embora Isaque tenha nascido segundo a promessa, Abraão ainda podia e continuou a gerar filhos, mesmo após os cem anos ( Gn 25:1 -2).

Neste ponto em específico (b) havia um grande perigo rondando o patriarca. Havia um risco para Abraão decorrente do fato de ele gerar filhos segundo a sua carne, mesmo em avançada idade. Havia o risco de Abraão se gloria da sua carne, pois mesmo em avançada idade ainda gerava filhos.

Hoje seria tema de discussão cientifica se Isaque era mesmo filho segundo a promessa, ou se Sara nunca foi estéril de fato. O cuidado que Abraão teve com relação ao rei de Sodoma, para que ninguém dissesse no futuro: “O rei de Sodoma foi quem enriqueceu a Abraão”, seria sem valia, visto que questionariam se Isaque foi realmente fruto da providência divina.

Quando nasceu Isaque, Abraão reputava com base na fé, que a promessa estava sendo cumprida. Mas, após Sara morrer e Abraão casar-se com Quetura, obtendo outros filhos, havia o risco de Abraão ser dissuadido da fé, e voltar a rir da promessa, visto que ele ainda podia gerar filhos, mesmo após considerar impossível obtê-los por causa da idade avançada ( Gn 17:17 ).

Quando Deus mandou Abraão imolar Isaque, Isaque era o seu ‘único’ filho, e não era cogitado Abraão ter mais filhos ( Gn 17:17 ). O evento demonstra que Deus não estava ‘testando’ e nem ‘mensurando’ a fé de Abrão. Deus não estava pondo à fé de Abraão a prova, uma vez que ele já havia sido justificado por Deus.

Deus não estava em dúvidas quanto à fé de Abraão quando o submeteu a prova!

O que Deus pretendia com a ‘provação’?

Com a provação Deus estava cuidando de Abraão! Como?

Pedro nos diz: “Essas provações são para que a prova da vossa fé, muito mais preciosa do que o ouro que perece, embora provado pelo fogo, redunde para louvor, glória e honra na revelação de Jesus Cristo” ( 1Pe 1:7 ; 4:12 -14).

Ora, as provações não são instrumentos de medida para se mensurar a fé daqueles que professam a Cristo, antes tem o fito de ‘redundar’ em louvor, glória e honra na revelação de Cristo "Bem-aventurado o homem que suporta a tentação; porque, quando for provado, receberá a coroa da vida, a qual o Senhor tem prometido aos que o amam" ( Tg 1:12 ).

Ou seja, a provação é conforme o propósito e segundo o conselho da vontade de Deus, ‘afim de sermos para louvor da sua glória’ ( Ef 1:11 -12). Abraão foi chamado por Deus para louvor de sua glória!

Como Abraão riu-se da promessa quando vislumbrou as impossibilidades ( Gn 17:17 ), ele poderia novamente rir-se da providência divina após gerar filhos de Quetura ( Gn 25:1 -52).

As seguintes questões poderiam sobressaltar Abraão: Será que Sara era estéril mesmo? Ismael, Isaque, Zinrá, Jocsã, Medã, Midiã, Jisbaque e Sua não foram filhos da minha carne? Será que a falta do “costume das mulheres” em Sara era mesmo uma impossibilidade de ter filhos?

A idade de Sara era um real impedimento para ela conceber? Visto que pude ter filhos com mais de cem anos com Quetura, o filho de Sara não poderia ser produto da minha ‘virilidade’?

Todas estas questões não poderiam levar Abraão a gloriar-se da sua carne?

Ao ser exigido o sacrifício de Isaque, Abraão teve que recobrar o seu filho dentre os mortos, confiado no poder de Deus “Abraão julgou que Deus era poderoso para até dentre os mortos o ressuscitar, e daí também em figura o recobrou” ( Hb 11:19 ).

Ou seja, quando Abraão se predispôs obedecer à ordem divina para oferecem em holocausto o seu filho, ele deixou de ter um filho segundo a sua carne (embora o filho segundo a promessa de Deus fosse proveniente das ‘entranhas’ de Abraão e Sara), para receber o seu filho dentre os mortos.

Daquele momento em diante, Abraão estava desprovido de qualquer elemento que o levasse a considerar posteriormente que Isaque era fruto de sua carne, ou que a sua própria carne havia lhe concedido Isaque. Após o evento da oferta de Isaque, Abraão, segundo a providencia divina, teve a confirmação de que nada alcançou segundo a carne "Que diremos, pois, ter alcançado Abraão, nosso pai segundo a carne?" ( Rm 4: 1).

Ao recobrar o seu filho dentre os mortos, o que Deus proporcionou a Abraão além do seu filho Isaque? Uma âncora que penetrou até o interior do que estava oculto. Ele foi ensinado a lançar mão da esperança proposta, e não do que era aparente e que desvanece ( Hb 6:18 -19).

Isaque não era a segurança de Abraão, antes a segurança estava na esperança proposta. A consolação esta em Deus que não mente e é imutável, o que faz o homem peregrinar em busca da pátria celestial! ( Hb 6:14 -18).

Para alcançar Isaque, Abraão teve que recobrá-lo dentre os mortos, agindo de modo a dar cabo da própria promessa. Naquele momento em que Abraão ofereceu o seu único filho, a palavra de Deus foi posta acima de evidências físicas da promessa.

Abraão descansou na providência divina, pois o descendente sobre quem a promessa repousaria ainda estava por vir!

Abraão alcançou esta graça em Deus, porém, o povo de Israel, os seus descendentes não compreenderam e nem fizeram como o crente Abraão. Apesar do exemplo concedido por Abraão, o povo não foi aprovado na prova do maná concedido no deserto.

As pessoas estavam confiadas no maná que aparecia no deserto, porém, não confiavam na palavra de Deus, que deu origem ao maná. Não consideravam que ‘nem só de pão viverá o homem’ ( Dt 8:3 ).

A prova da fé do homem não é porque Deus quer saber ou mensurar algo a respeito do homem. Antes, a prova da fé tem em vista a preservação da confiança do homem, o que redunda em louvor, glória e honra a Deus ( 1Pe 1:7 ).

Com relação ao versículo que diz: “Agora sei que temes a Deus, pois não me negaste o teu filho, o teu único filho” ( Gn 22:12 ), temos um caso típico de antropomorfismo, ou melhor, é um dos ‘modos’ de Deus se manifestar ou comunicar-se utilizando a forma, o modo, a características ou a linguagem humana.

Quando o Anjo do Senhor disse: ‘agora sei que temes a Deus’, o objetivo era louvar o homem que foi provado e aprovado com base na fé "Porque não é aprovado quem a si mesmo se louva, mas, sim, aquele a quem o Senhor louva" ( 2 Co 10:18 ).

Três áreas são afetadas quando nos oferecemos como sacrifício vivo a Deus (Rm 12.1, 2):

• Afeta a posição – Quando estamos sobre o altar, deve haver mudança de identidade, mudança de autoridade. “Antes de trabalharmos para Deus, precisamos ser trabalhados por Ele”. A ausência de quebrantamento oculta o tesouro escondido no vaso.

• Afeta o uso – A verdadeira vida cristã é uma vida de entrega, renúncia e sacrifício. Deus não nos chama a sacrificar apenas o que possuímos, mas também o que somos.

Isso envolve tudo, nosso tempo, conforto e segurança. Aparentemente, o vaso quebrado traz prejuízos, levando alguém a pensar: “Que desperdício!” (Mc 14.3-9).

Quando Deus nos trata no altar, somos afetados em nosso orgulho (desejo de ser algo, desejo de aparecer).

• Afeta a forma – O que sobra no altar depois da oferta? Só cinzas! Não podemos apenas querer ter uma oferta, precisamos ser uma oferta agradável ao Senhor.

Certo pensador disse: “Homens sãos, não contundidos, não quebrados, são de pouco uso para Deus”. Lutero dizia:“Deus põe a sua marca em todos quantos o obedecem”. A mudança de forma no sacrifício diz respeito ao nosso estilo de vida. Deus remodela a nossa vida para o cumprimento de seu propósito. Holocausto é uma oferta para o deleite de Deus.

Quando parecia que Abraão ia perder seu filho, Deus provê o cordeiro. Na adoração não perdemos o que damos, pelo contrário, somos restituídos por Deus de maneira surpreendente.

V. ADORAÇÃO SEGUNDO ABRAÃO

Entrega profunda, irrestrita, do melhor e de tudo o que se tem. Oferta, sacrifício, movido por fé e obediência. Uma vida só faz sentido se atender aos interesses daquele que é adorado. É assim que entendemos adoração. Não é um estilo de música, não é uma onda, não é uma filosofia, não se resume a uma só palavra.

É o relacionamento, íntimo, santo e profundo entre o adorador e aquele que é adorado. Adoramos a Deus, o Altíssimo, Soberano, o Senhor dos Exércitos, o Criador dos céus e da terra. A Ele seja toda a honra e toda a glória.

Os três elementos de adoração:

a) O adorado; “Deus”

b) O adorador; “O cristão”

c) A adoração. “ Os ingredientes do culto”

O foco deve ser sempre aquele que é adorado. O adorador e a adoração precisam estar em harmonia com o caráter daquele que é adorado.

Em Gênesis 4 vemos que Caim e Abel trouxeram ofertas ao Senhor. Deus atentou para Abel e sua oferta, porém o mesmo não ocorreu com Caim. Portanto, antes mesmo da adoração, Deus observa o adorador. ( Jo 4:23) diz que Deus procura aqueles que o adoram em espírito e em verdade.

Deus procura os adoradores e não a adoração. Uma vez encontrando verdadeiros adoradores, haverá verdadeira adoração.

Sendo assim o nosso desafio não é acertar na adoração e sim, sermos aceitos como adoradores.

Se nós formos aceitos como adoradores diante do Senhor, a nossa adoração certamente será aceita. Sendo assim, caem por terra toda a preocupação de estereotipar a adoração, aprisionando-a à música, ou a um estilo, ou a uma certa quantidade de repetições, palavras, expressões, conjugações de verbo, posições físicas, barulho ou ausência dele, extravagância, quietude, ou detalhes semelhantes a estes.

Verdadeiro adorador, verdadeira adoração. Adorador aprovado, adoração aceita.

Por isso, adoramos a Deus. Buscamos adorá-lo com a nossa vida. Com tudo o que temos e somos. Quanto a isto, sim, temos muito que aprender. E que bom saber que o próprio Pai revela aos Seus filhos espalhados por toda a terra cada dia mais uma nova porção sobre adoração, pois é Ele mesmo o maior interessado em que todos o adorem em espirito e em verdade.

Deus ainda não terminou conosco. Algumas coisas precisam ser deixadas no altar.

O único meio de se descobrir a glória é tendo a disposição de perder ou deixar tudo no altar e submeter-se a soberania de Deus. O papel dos ministérios na Igreja não é o de entreter ou manter os fiéis, mas amadurecê-los.

Que cada um de nós não venha a se apenas telespectadores como ocorre nos estádios ou na televisão, mas, praticantes de um verdadeiro culto racional, pois só assim poderemos ser aceitos por Deus, amém!

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