Por: Jânio Santos de Oliveira
Presbítero e professor de teologia da Igreja Assembléia de Deus Taquara - Duque de Caxias- Rio de Janeiro
janio-construcaocivil.blogspot.com
Meus amados e queridos irmãos em Cristo Jesus a Paz do Senhor!
Perdoar é um dos atos básicos da fé cristã, pois, a nossa entrada na vida que Jesus Cristo nos ofereceu, só foi possível porque recebemos perdão de nosso Deus e Pai. Ele nos perdoou, mediante a obra de seu Filho feita na cruz, em nosso favor. Amor e perdão sempre caminham juntos.
“Deus é amor”, é a mais formosa definição que a Bíblia apresenta. E a maior prova do seu amor para conosco foi perdoar todos os nossos pecados. Porque ele nos ama ele nos perdoou. Perdoar é um atributo de Deus.
Perdoar é um mandamento da Palavra de Deus. Não é um sentimento, nem depende de nossa vontade ou emoção.
A Palavra declara: “sede uns para com os outros benignos, compassivos, perdoando-vos uns aos outros, como também Deus, em Cristo vos perdoou” (Ef 4.32); “Suportai-vos uns aos outros, perdoai-vos mutuamente, casa alguém tenha queixa contra outrem. Assim como o Senhor nos perdoou, assim também perdoai vós” (Cl 3.13).
Quando Deus nos perdoou, pôs um fim à situação desastrosa em que nós nos encontrávamos, pois, estávamos condenados à morte como conseqüência do nosso pecado de desobediência.
Ele nos chamou para uma nova vida, onde o amor e o perdão sempre têm a sua máxima expressão. Perdoada a nossa ofensa, o relacionamento amoroso que nos une ao Pai Eterno foi restaurado. Diante desse ato de misericórdia e amor imerecido devemos, do mesmo modo, estender perdão a todo aquele que nos ofender.
O perdão de Deus deve gerar em nosso coração o desejo de perdoar incondicionalmente, tal com ele fez conosco.
Perdoar significa deixar de considerar o outro com desprezo ou ressentimento. É ter compaixão, deixando de lado toda a idéia de vingar-se daquilo que foi feito ou pelas conseqüências que sofremos.
A base sobre a qual exercitamos o perdão
O PERDÃO é um fato, sem que exista discussão sobre o assunto, pois se fundamenta no amor e é sustentado pela caridade, sem insultar a lei da justiça.
Infelizmente, nosso conceito de perdão pode limitar ou dificultar a nossa capacidade de perdoar. Dizem que perdoar é coisa de gente fraca, medrosa, boba. Possuímos crenças negativas de que perdoar é aceitar de forma passiva tudo o que nos fizeram.
Achamos que perdoar é aceitar agressões, desrespeito aos nossos direitos. Muitos afirmam: "eu não levo desaforo para casa!..." Somos alguns destes?
Será que a pessoa que perdoa demonstra fraqueza de caráter? Temos a certeza que não. Aliás, esta certeza não é nossa, mas do Cristo que nos recomendou e viveu o perdão incondicional.
E não consta que o Mestre tenha demonstrado em Sua vida fraqueza de caráter. Alguns até pensaram que ele era meio fraco, já que quando perseguido e açoitado, não esboçou qualquer gesto de reação e no auge do seu martírio ainda foi capaz de pedir ao Pai que perdoasse os seus ofensores.
Até hoje ninguém se lembra daqueles que o crucificaram, mas o nome do "imaginado fraco", do grande pacificador, cruzou os mares, venceu a linha do tempo, ficando conhecido em todo o mundo, a tal ponto de dividir a história da humanidade em antes e depois Dele.
Não existe uma razão plausível para não perdoar, mas existem muitas razões para exercitarmos o perdão. Vamos ver algumas delas?
A primeira razão para perdoar encontra-se na constatação de que todos nós ainda somos imperfeitos. Não há ninguém, no atual estágio do planeta Terra, que tenha atingido a perfeição, por isso, o erro faz parte das nossas vidas.
A visão da eternidade, que a doutrina espírita nos mostra, abre os nossos horizontes, pois se já percorremos inúmeras encarnações, muito já aprendemos, porém temos que aprender outras centenas de lições.
E como o Criador está em constante processo de criação, cada um de nós iniciou sua trajetória evolutiva em época diferente da dos demais. Logo, cada um de nós está em determinada faixa evolutiva, com determinados aprendizados já realizados e com muitos outros a serem realizados.
Então, se alguém nos ofende, não o faz por maldade, mas por ignorância. Ignorância significa, que quem nos ofendeu ignora, ainda não aprendeu a lição do respeito. Somente quem tem a visão da imortalidade do espírito pode compreender a trajetória que todos nós realizamos, passo a passo, degrau a degrau.
Um exemplo simples: se déssemos a um aluno do Primeiro Grau uma equação algébrica para ele resolver, dificilmente conseguiria e nem por isso seus professores ficariam decepcionados com ele. Simplesmente entenderiam que ele não estava em condições de resolver o problema. Ele ainda era ignorante em álgebra. Futuramente não será mais.
Sendo assim, haveremos de aceitar as pessoas como elas são; cheias de virtudes e defeitos. Não há perfeição, ainda somos imperfeitos. Vamos sair da ilusão de que os outros devem ser perfeitos, principalmente quando agem conosco.
Muitos dizem: "Ah, eu me desiludi com aquela pessoa". É claro! Sabem por quê? Porque se iludiram com ela, pensando que esta seria perfeita o tempo todo.
Provavelmente, notaram muitas virtudes e aí passaram a imaginar que aquela pessoa era um "anjo caído do céu", mas quando esta mostrou os seus defeitos, veio a desilusão, o engano, a decepção. Aí, muitos dizem que não conseguem perdoar porque estão muito magoados.
Porém, o problema não está no outro, pois era previsível que por mais especial que esta pessoa fosse, um dia acabaria agindo de forma diferente daquela que esperávamos. O erro está em nós, que não aceitamos as pessoas como elas são.
Será que estamos aceitando as pessoas como são? Será que não estamos esperando muito dos outros? Será que estamos esperando lidar com seres angélicos num planeta de provas e expiações?
Podemos dizer: Sem Aceitação, Não há Perdão!
Aceitando-nos e aos nossos irmãos como eles são nossos relacionamentos ficarão melhores. Sabem por quê? Porque não haverá tanta cobrança, tanta expectativa.
E quando eles ou nós errarmos, e eventualmente nos prejudicarmos, haveremos de lembrar-se do Mestre Jesus, que perdoou a todos, exatamente porque aceitou a cada um de nós do jeitinho que somos.
Outro motivo para esquecermos as ofensas está na constatação de que o perdão traz um grande alívio para quem perdoa. Nem sempre para quem é perdoado.
Porque muitas vezes quem é perdoado não consegue se livrar da sua consciência, mas este também precisa aprender a se perdoar e a recomeçar novamente.
O autoperdão também é importante. Para que reconhecendo os nossos erros encontremos forças para reformular nossas atitudes e começar uma nova vida.
Considerando a própria fragilidade, o indivíduo deve conceder-se a oportunidade de reparar os males praticados, reabilitando-se perante si mesmo e perante aqueles a quem haja prejudicado.
O arrependimento, puro e simples, se não acompanhado da ação reparadora, é tão inócuo e prejudicial quanto a falta dele.
O autoperdão ajuda o amadurecimento moral, porque propicia clara visão responsabilidade, levando o indivíduo a cuidadosas reflexões, antes de tomar atitudes agressivas ou negligentes, precipitadas ou contraditórias no futuro.
Quando alguém se perdoa, aprende também a desculpar, oferecendo a mesma oportunidade ao seu próximo.
Caso não nos perdoarmos ou não perdoarmos alguém, carregaremos os sentimentos de mágoa e ressentimentos e este lixo tóxico produzirá em nosso organismo doenças de difícil tratamento.
Por quê? Porque se alimentarmos idéias de ódio e vingança entramos na mesma sintonia de agressão e sobrecarregamos nossos centros energéticos, perturbando o nosso organismo, desencadeando um mundo de distúrbios, fazendo com que nosso espírito sofra as conseqüências do que provocou.
Eis o porquê do PERDÃO.
Muitos podem estar se perguntando como podemos aprender a perdoar.
Uma das ferramentas básicas para alcançarmos o perdão real, é conseguirmos nos manter a certa "distância psíquica" da pessoa, do problema ou das discussões.
O que seria esta distância psíquica? É conseguirmos analisar, o problema como se não fosse conosco. Porque este distanciamento fará com que não exageremos na interpretação do problema, caindo em impulsos desequilibrados causando uma sobrecarga em nossa energia mental.
A mente com este desequilíbrio dificulta o perdão. Então, nos desligando da agressão ou do desrespeito, nosso pensamento vai sintonizar com mais clareza e nitidez no bem, renovando a "atmosfera mental".
Ao desprendermo-nos mentalmente, passamos a usar construtivamente os poderes do nosso pensamento, evitando os "deveria ter falado ou agido", eliminando da nossa imaginação os acontecimentos infelizes que aconteceram conosco.
É fator imprescindível, ao "separar-nos" emocionalmente de acontecimentos infelizes, a TERAPIA DA PRECE como forma de nos harmonizarmos, pois a prece refaz os sentimentos de paz e serenidade, facilitando a harmonização interior.
Desligar-se não é um processo de nos tornar insensíveis e frios, comportando-nos como criaturas inacessíveis as ofensas e críticas. Desligar-se, quer dizer deixar de alimentar-se das relações destrutivas, desvincularem-se mentalmente das relações doentias ou de problemas que não podemos solucionar no momento.
Ao soltarmo-nos desses fluidos que nos amarram a essas crises, temos a chance de enxergarmos novas formas de resolver dificuldades e desenvolvermos a nobre tarefa de nos compreender e compreender os outros.
Quando aceitaremos fazer este "distanciamento" mais facilmente? Quando conseguirmos acreditar que cada ser humano é capaz de resolver seus problemas, e é responsável por todos os seus feitos na vida, permitindo que sejam, e se comportem como queiram, dando-nos a nós essa mesma liberdade.
Viver nos impondo certa "distância psicológica" às pessoas ou coisas problemáticas, sejam entes queridos difíceis ou companheiros complicados, não significa que deixaremos de nos importar com eles ou de amá-los ou de perdoar-lhes, mas sim de viver sem enlouquecer pela ânsia de tudo compreender, suportar e admitir.
Compreendendo, que ao promovermos, este distanciamento psicológico, terá mais habilidade e disponibilidade para percebermos o processo que há por trás dos comportamentos agressivos, permitindo-nos não reagir da mesma maneira que fazíamos e sim olharmos "como é, como está sendo feito" nosso modo de nos relacionar com os outros, isto nos leva a começar a entender a dinâmica do perdão.
Uma das mais eficientes técnicas de perdoar é retomar o vital contato conosco mesmo, deixando-nos de ser vítimas de forças fora do nosso controle para transformar-nos em criaturas que criam sua própria realidade de vida, pois como já diz o nosso querido Divaldo Pereira Franco:
A base para o ato de perdoar é o completo e livre perdão que recebemos do Pai. Assim como ele nos perdoou, nós perdoamos. Como filhos de Deus o perdão que expressarmos, deve ser análogo ao seu perdão –“perdoando-vos uns aos outros como, também Deus, em Cristo, vos perdoou” (Efésios 4.32), ensina o apóstolo. É inconcebível viver sob o perdão de Deus sem perdoar ao próximo.
Quando Jesus ensinou os seus discípulos a orar, ele colocou um pedido ao Pai: “perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós temos perdoado os nossos devedores” (Mt 6.12).
É esse espírito de perdão que deve permanecer em nós. Se o Pai, antecipadamente, nos perdoou, quando não éramos merecedores, em gratidão ao seu amor perdoador, nós devemos, também, perdoar aos que nos ofendem.
O perdão deve uma característica do nosso viver cristão. Se o amor perdoador de Cristo foi sacrificial – ele se deu por nós -, da mesma forma o nosso amor deve se expressar dando-nos, em amor, por aquele que nos ofendeu.
Quando devemos perdoar
Há dois momentos, em especial, que o perdão deve se expressar:
. (1) – No momento em que fomos atingidos - injuriados, maltratados, ofendidos, perseguidos.
O exemplo de Estevão mostra que ele perdoou no mesmo momento da agressão recebida (At 7.60)
“Então, ajoelhando-se, clamou em alta voz: Senhor não lhes impute este pecado”.
Apedrejado até a morte, ele não pensou em si, pensou na situação dos agressores diante de Deus – perdoou-os e rogou por eles.
Eis, aí manifesto o mais elevado e magnífico espírito cristão de perdão. Este primeiro mártir da fé cristã imitou o Senhor Jesus que orou na cruz: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem” (Lc 23.34).
(2) – Quando aquele que ofendeu pede perdão –
José tinha apenas dezessete anos quando seus irmãos, friamente, venderam-no para a escravidão. Separado de sua família e do seu país, ele atingiu a posição de supervisor da casa de Potifar, seu senhor egípcio.
Mas o desastre atingiu-o novamente. Ele recusou os avanços sexuais da esposa de Potifar e ela acusou-o falsamente de assediá-la.
Ele foi posto na prisão, onde, mais uma vez, o Senhor estava com ele e se tornou o supervisor dos outros prisioneiros. José permaneceu nessa prisão pelo menos durante dois anos (Gn 37; 39).
Faraó, rei do Egito, teve um sonho e desejava sua interpretação. José foi capaz, pelo poder de Deus, de interpretar o sonho de Faraó e foi exaltado a uma posição de poder próxima à do próprio Faraó.
Este fê-lo encarregado da armazenagem e da distribuição dos cereais em toda a terra do Egito.
Foi depois disto que os irmãos de José vieram ao Egito para comprar cereais.
Estava dentro do poder de José tomar vingança contra aqueles que tinham pecado contra ele tantos anos atrás.
Contudo, a Bíblia nos conta que José experimentou seus irmãos e, tendo visto o arrependimento deles, recebeu-os com lágrimas e afeto (Gn 45.1-15). Ele os tinha perdoado por seu pecado.
Muitas pessoas não perdoariam como José o fez. Não é fácil, freqüentemente, perdoar, e quanto maior a intimidade que temos com aquele que peca contra nós, mais difícil é perdoá-lo.
As Escrituras nos ensinam, contudo, que a má vontade em perdoar os outros nos retira o perdão divino. Jesus ensinou: "Porque, se perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai celeste vos perdoará; se, porém, não perdoardes aos homens as suas ofensas, tampouco vosso Pai vos perdoará as vossas ofensas" (Mt 6.14-15).
Desde que todos os indivíduos responsáveis diante de Deus necessitam de perdão, é, portanto indispensável que entendamos e pratiquemos o perdão.
O que é o Perdão?
A palavra grega traduzida como "perdoar" significa literalmente cancelar ou remir.
Significa a liberação ou cancelamento de uma obrigação e foi algumas vezes usada no sentido de perdoar um débito financeiro.
Para entendermos o significado desta palavra dentro do conceito bíblico de perdão, precisamos entender que o pecador é um devedor espiritual.
Até Jesus usou esta linguagem figurativa quando ensinou aos discípulos como orar: "e perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós temos perdoado aos nossos devedores" (Mt 6:12).
Uma pessoa se torna devedora quando transgride a lei de Deus (1 Jo 3:4). Cada pessoa que peca precisa suportar a culpa de sua própria transgressão (Ez 18.4,20) e o justo castigo do pecado resultante (Rm 6.23).
Ele ocupa a posição de pecador aos olhos de Deus e perde sua comunhão com Deus (Is 59.1-2; 1 Jo 1:5-7).
A boa nova do evangelho é que Jesus pagou o preço por nossos pecados com sua morte na cruz.
Quando aceitamos o convite para a salvação através de nossa obediência aos mandamentos de Deus, ele aceita a morte de Jesus como o pagamento de nossos pecados e nos livra da culpa por nossas transgressões.
Não ficamos mais na posição de infratores da lei ou devedores diante de Deus. Somos perdoados!
O perdão, então, é um ato no qual o ofendido livra o ofensor do pecado, liberta-o da culpa pelo pecado.
Este é o sentido pelo qual Deus “esquece” quando perdoa (Hb 8.12). Não que a memória de Deus seja fraca.
Por exemplo, Deus lembrou-se do pecado de Davi a respeito de Bate-Seba e Urias muito tempo depois que Davi tinha sido perdoado (2 Sm 12:13; 1 Re 15:5).
Ele liberta a pessoa perdoada da dívida do seu pecado, isto é, cessa de imputar a culpa desse pecado à pessoa perdoada ( Rm 4.7-8).
O Perdão é Condicional
É importante entender que o perdão de Deus é condicional.
Deus perdoa livremente no sentido que ele não exige a morte do pecador que responde a seu convite de salvação, permitindo que a morte de Jesus pague a pena por seus pecados.
Contudo, Deus exige fé, arrependimento, confissão de fé e batismo como condições para o perdão do pecador estranho (Mc 16:16; At 2:37-38; 8:35-38; Rm 10:9-10). O perdão é também condicional para o cristão que peca.
O arrependimento, a mudança de pensamento, precisa ocorrer antes que o perdão divino seja estendido (At 8.22).
Deus nos chama a perdoar assim como ele perdoa. Quando alguém peca contra mim, ele se torna um transgressor da lei de Cristo.
Eu o considero um pecador. Se ele se arrepende e pede para ser perdoado, eu tenho que perdoá-lo, isto é, libertá-lo de sua culpa como transgressor.
Quando eu o perdôo, não o considero mais um pecador.
Posso não ser literalmente capaz de esquecer o pecado que ele cometeu mais do que Deus literalmente "esquece" nossos pecados, mas preciso deixar de atribuir a ele a culpa pelo seu pecado.
Deste modo, eu o liberto de sua "dívida"
E se o pecador não se arrepender? Tenho que perdoar aquele que peca contra mim, mas não se arrepende?
Talvez esta pergunta seja melhor respondida pelas palavras de Jesus: "Acautelai-vos. Se teu irmão pecar contra ti, repreende-o; se ele se arrepender, perdoa-lhe. Se, por sete vezes no dia, pecar contra ti e, sete vezes, vier ter contigo, dizendo: Estou arrependido, perdoa-lhe" (Lc 17.3-4).
Jesus indicou que o perdão deveria ser estendido quando o pecador se arrepende e confessa seu pecado. Precisamos também lembrar que Deus sempre exige arrependimento como condição de divino perdão. Deus não exige de nós o que ele mesmo não está querendo fazer.
Devemos estar preparados para perdoar, tão logo nos for solicitado o perdão. Deve ser uma atitude imediata e sem guardar ressentimento algum.
Isso se expressará mais fácil na medida em que amadurecemos em nossa vida espiritual.
O perdão tem de ser um ato de nossa vontade disciplinada. Ele não é um sentimento, nem é facultativo. Ele resulta de colocar a nossa vontade sob a vontade de Deus.
Quantas vezes devemos perdoar?
Essa foi a pergunta que Pedro fez a Jesus. A resposta do Senhor trouxe algo novo, demonstrando que já não estamos sob a Lei, estamos sobre a Graça de Deus.
“Senhor, até quantas vezes meu irmão pecará contra mim, que eu lhe perdoe? Sete vezes? Respondeu-lhe Jesus: Não te digo que até sete vezes, mas até setenta vezes sete” (Mt 18.21,22).
Se a Lei determina um número de vezes para perdoar, o Evangelho de Cristo não determina números, determina a aplicação do amor em grau infinito.
Condições para recebermos perdão
Perdoar para ser perdoado é o ensino de Jesus:
- “se, porém, não perdoardes aos homens [as suas ofensas], tampouco vosso Pai vos perdoará as vossas ofensas”. (Mt 6.15).
- “Assim também meu Pai celeste vos fará se no íntimo não perdoardes cada um ao seu irmão” (Mt 18.35).
- “E, quando tiverdes orando, se tendes alguma cousa contra alguém, perdoai, para que o vosso Pai celestial vos perdoe as vossas ofensas” (Mc 11.25)..
“Se, pois, ao trazeres ao altar a tua oferta, ali te lembrares de que teu irmão tem alguma cousa contra ti, deixa perante o altar a tua oferta, vai primeiro reconciliar-te com teu irmão; e, então, voltando, faze a tua oferta”. ( Mt 5:23,24).
A reconciliação não é algo a ser praticado somente entre nós e Deus, mas também para com nossos irmãos. Reconhecemos, que, à semelhança da cruz, também temos duas linhas do fluir da reconciliação: a vertical (o homem com Deus) e a horizontal (entre os homens).
O mesmo perdão que recebemos de Deus deve ser praticado para com nossos semelhantes.
QUEM NÃO PERDOA NÃO É PERDOADO
O perdão (ou a falta dele) faz muita diferença na vida de alguém.
A reconciliação horizontal determina se a vertical que recebemos de Deus vai permanecer em nossa vida ou não. A palavra de Deus é clara quanto ao fato de que se não perdoarmos a quem nos ofende, então Deus também não nos perdoará.
Foi Jesus Cristo quem afirmou isto no ensino da oração do Pai-nosso:
“Porque se perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai celeste vos perdoará; se, porém, não perdoardes aos homens as suas ofensas, tampouco vosso Pai vos perdoará as vossas ofensas”. ( Mt 6.14,15).
Deus tem nos dado seu perdão gratuitamente, sem que o merecêssemos, e espera que usemos do mesmo espírito misericordioso para com quem nos ofende.
Se fluirmos com o Pai Celestial no mesmo espírito perdoador, permanecemos na reconciliação alcançada pelo Senhor Jesus.
Contudo, se nos negamos a perdoar, interrompemos o fluxo da graça de Deus em nossa vida, e nossa reconciliação vertical é comprometida pela ausência da horizontal.
Cristo também nos advertiu com clareza sobre isto em uma de suas parábolas (faladas num contexto que envolvia o perdão):
“Por isso o reino dos céus é semelhante a um rei, que resolveu ajustar contas com os seus servos.
E passando a fazê-lo, trouxeram-lhe um que devia dez mil talentos.
Não tendo ele, porém, com que pagar, ordenou o seu senhor que fosse vendido ele, a mulher, os filhos e tudo quanto possuía, e que a dívida fosse paga.
Então o servo, prostrando-se reverente, rogou: Sê paciente comigo e tudo te pagarei.
E o senhor daquele servo, compadecendo-se, mandou-o embora, e perdoou-lhe a dívida.
Saindo, porém, aquele servo, encontrou um dos seus conservos que lhe devia cem denários; e, agarrando-o, o sufocava, dizendo: paga-me o que me deves.
Então o seu conservo, caindo-lhe aos pés, lhe implorava: Sê paciente comigo e te pagarei.
Ele, entretanto, não quis; antes, indo-se, o lançou na prisão, até que saldasse a dívida.
Vendo os seus companheiros o que havia se passado, entristeceram-se muito, e foram relatar ao seu senhor tudo o que acontecera. Então seu senhor, chamando-o, lhe disse: Servo malvado perdoei-te aquela dívida toda porque me suplicaste; não devias tu, igualmente, compadecer-te do teu conservo, como também eu me compadeci de ti?
E, indignando-se, o seu senhor o entregou aos verdugos, até que pagasse toda a dívida.
“Assim também o meu Pai celeste vos fará, se do íntimo não perdoardes cada um a seu irmão”. (Mt 18:23-35).
O significado desta ilustração dada por Jesus Cristo é muito forte. Temos um rei e dois tipos de devedores.
Se a parábola ilustra o reino de Deus, então o rei figura o próprio Deus. O primeiro devedor tinha uma dívida impagável, enquanto que a do segundo estava ao seu alcance.
Não há como comparar a dívida de cada um. Dez mil talentos da dívida do primeiro servo era o equivalente a cerca de 200.000 dias de trabalho, enquanto que os cem denários que o outro servo devia era o equivalente a apenas cem dias de trabalho.
Esta diferença revela a dimensão da dívida que cada um de nós tinha para com Deus, e que, por ser impagável, estávamos destinados à prisão e escravidão eterna.
Contudo, sem que fizéssemos por merecer, Deus em sua bondade nos perdoou. Portanto, Ele espera que façamos o mesmo.
O cristão que foi perdoado de seus pecados e recusa-se a perdoar um irmão – seu conservo no evangelho – terá seu perdão revogado.
Isto é muito sério. As ofensas das pessoas contra a gente não são nada perto das nossas ofensas que o Pai Celestial deixou de levar em conta.
E a premissa bíblica é de que se pudemos ser perdoados por Ele, então também devemos perdoar a qualquer um que nos ofenda.
A FALTA DE PERDÃO É UMA PRISÃO
Quem não perdoa, está preso.
Lemos em Mt 18:34: “E, indignando-se, o seu senhor o entregou aos verdugos, até que pagasse toda a dívida”.
A palavra verdugo significa “torturador”. Além de preso, aquele homem seria torturado como forma de punição.
A prática do ministério nos revela que o que Jesus falou em figura nesta parábola é uma realidade espiritual na vida de quem não perdoa. Os demônios amarram a vida daqueles que retém o perdão.
Suas torturas aplicadas são as mais diversas: angústia e depressão, enfermidades, debilidade física.
Muita gente tem sofrido com a falta de perdão. Outro dia ouvi alguém dizendo que o ressentimento é o mesmo que você tomar diariamente um pouco de veneno, esperando que quem te magoou venha a morrer.
A falta de perdão produz dano maior em quem está ferido do que naquele que feriu. Por isso sempre digo a quem precisa perdoar: – “Já não basta o primeiro sofrimento, porque acrescentar outro maior (a mágoa)”?
Alguns acham que o perdão é um benefício para o ofensor.
Porém, eu digo que o benefício maior não é o que foi dado ao ofensor, mas sim o que o perdão produz na vítima, naquele que está ferido.
Sem perdão não há cura. A doença interior só se complica, e a saúde espiritual, emocional e física da pessoa ressentida é seriamente afetada.
Em outra porção das Escrituras (onde o contexto dos versículos anteriores é o perdão), vemos o Senhor Jesus nos advertindo do mesmo perigo:
“Entra em acordo sem demora com teu adversário, enquanto estás com ele a caminho, para que o adversário não te entregue ao juiz, o juiz ao oficial de justiça, e sejas recolhido à prisão.
“Em verdade te digo que não sairás dali, enquanto não pagares o último centavo”. ( Mt 5.25,26).
Não sei exatamente como é está prisão, mas sei que Cristo não estava brincando quando falou dela.
A falta de perdão me prende e pode prender a vida de mais alguém.
Isto é um fato comprovado. Tenho presenciado gente que esteve presa por tantos anos, e ao decidir perdoar foi imediatamente livre. Isto também pode acontecer com você, basta decidir perdoar.
SEGUINDO O EXEMPLO DIVINO
Como deve ser o perdão?
A pessoa tem que pedir o perdão ou merecê-lo para poder ser perdoada? Não. Devemos perdoar como Deus nos perdoou:
“Antes, sede uns para com os outros benignos, compassivos, perdoando-vos uns aos outros, como também Deus em Cristo vos perdoou”. ( Ef 4.32).
O texto bíblico diz que nosso perdão e reconciliação horizontal deve seguir o exemplo da que Deus em Jesus praticou para conosco.
Então, basta perguntar: – “Fizemos por merecer o perdão de Deus? Não. Então nosso ofensor também não precisa fazer por merecer”.
O perdão é um ato de misericórdia, de compaixão.
Nada tem a ver com merecimento. O apóstolo Paulo falou aos efésios que o perdão é fruto de um coração compassivo e benigno.
O perdão flui da benignidade do nosso coração, e não por haver ou não benignidade no ofensor.
Jesus disse que se eu souber que alguém tem algo contra mim, devo procurá-lo para tentar a reconciliação.
Mesmo se tal pessoa não me procurar ou nem mesmo quiser falar comigo, tenho que ter a iniciativa, tenho que tentar.
Deus ofereceu perdão gratuito a todos, independentemente de qualquer comportamento, e Ele é nosso exemplo!
NÃO HÁ LIMITE DE VEZES PARA PERDOAR
Certa ocasião, o apóstolo Pedro quis saber o limite de vezes que existe para perdoar alguém.
E foi surpreendido pela resposta que Cristo lhe deu: “Então Pedro, aproximando-se, lhe perguntou: Senhor, até quantas vezes meu irmão pecará contra mim, que eu lhe perdoe? Até sete vezes? Respondeu-lhe Jesus: Não te digo que até sete vezes, mas até setenta vezes sete”. Mt 18:21,22).
O Senhor declarou que mesmo se alguém repetir sua ofensa contra mim por quatrocentos e noventa vezes, ainda deve ser perdoado.
Na verdade, os comentaristas bíblicos em geral entendem que Jesus não estava se prendendo a números, mas tentando remover o limite imposto na mente dos discípulos para perdoar.
Fico pensando o que seria de nós sem a misericórdia de Deus. Quantas vezes Deus já nos perdoou? Quantas mais Ele vai nos perdoar? Se devemos perdoar como também Deus em Cristo nos perdoou, então fica claro que não há limite de vezes para perdoar!
O diabo É QUEM LEVA VANTAGEM
Já falamos que há uma prisão espiritual ocasionada por reter o perdão. E que demônios se aproveitam desta situação.
Agora queremos examinar outro texto bíblico que nos mostra nitidamente que a falta de perdão dá vantagem ao diabo:
“A quem perdoais alguma cousa, também eu perdôo; porque de fato o que tenho perdoado, se alguma cousa tenho perdoado, por causa de vós o fiz na presença de Cristo, para que Satanás não alcance vantagem sobre nós, pois não lhe ignoramos os desígnios”. ( Co 2.10,11).
O apóstolo Paulo revela que se deixamos de perdoar, quem vai se aproveitar da situação é Satanás, o adversário de nossas almas. Disse ainda, que não ignorava as maquinações do maligno.
Em outras palavras, ele estava dizendo que justamente por saber como o diabo age na falta de perdão, é que não podia deixar de perdoar.
Precisamos entender que Deus não será engrandecido na falta de perdão. Que o ofendido não lucra nada por não perdoar.
Que até mesmo o ofensor pode estar espiritualmente preso. O único que lucra com isso é o diabo, pois passa a ter autoridade na vida de quem decide alimentar a ferida do ressentimento.
A Bíblia nos ensina que não devemos dar lugar ao diabo (Ef 4.27).
Que ele anda em nosso derredor rugindo como leão, buscando a quem possa tragar (I Pe5.8), e que devemos resisti-lo (Tg 4.7).
Mas quando nos recusamos a perdoar, estamos deliberadamente quebrando todos estes mandamentos.
CONSELHOS PRÁTICOS
Para aqueles que reconhecem que não há saída a não ser perdoar, mas que, por outro lado, não é algo tão fácil de se fazer, quero oferecer alguns conselhos práticos que serão de grande valia.
Primeiro, o perdão não é um sentimento, é uma decisão e também uma atitude de fé.
Já dissemos que o perdão não é por merecimento, logo, não tenho motivação alguma em minhas emoções a perdoar.
Não me alegro por ter sido lesado, mas libero aquele que me lesou por uma decisão racional.
Portanto, o perdão não flui espontaneamente, deve ser gerado no coração por levar em consideração aquilo que Deus fez por mim e sua ordem de perdoar.
As conseqüências da falta de perdão também devem ser lembradas, para dar mais munição à razão do que à emoção.
É preciso fé para perdoar.
Certa ocasião quando Jesus ensinava seus discípulos a perdoarem, foi interrompido por um pedido peculiar:
“Acautelai-vos. Se teu irmão pecar contra ti, repreende-o; se ele se arrepender, perdoa-lhe.
Se por sete vezes no dia pecar contra ti, e sete vezes vier ter contigo, dizendo: Estou arrependido, perdoa-lhe.
Então disseram os apóstolos ao Senhor: Aumenta-nos a fé”. ( Lc 17.3-5).
Naquele instante os discípulos reconheceram que para praticar este nível de perdão iriam precisar de mais fé.
E Jesus parece ter concordado, pois nos versículos seguintes lhes ensinou que a fé é como semente, quanto mais se exercita mais ela cresce.
É necessário crer que Deus é justo e que Ele não nos pede mais do que aquilo que podemos dar.
Se Deus nos pediu que perdoássemos, Ele vai nos socorrer dispensando sua graça no momento em que tivermos uma atitude de perdão.
Muitas vezes o perdão precisa ser renovado.
Depois de declarar alguém perdoado, o diabo, que não quer perder seu domínio, vai tentar renovar a ferida.
Em Pv 17:9 as Escrituras Sagradas nos falam sobre encobrir a questão ou renová-la. É preciso tomar uma decisão de esquecer o que houve, e renovar somente o perdão.
Cada vez que a dor tentar voltar, declare novamente seu perdão. Ore abençoando seu ofensor. Lute contra a mágoa!
É importante ver os ofensores como vítimas. Isto é algo especial que vejo em Jesus na cruz:
“Contudo Jesus dizia: Pai perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem”. ( Lc 23.34).
Em vez de olhar para eles como quem merece punição e castigo, Jesus enxerga que eles também eram vítimas.
Aqueles homens estavam em cegueira e ignorância espiritual, debaixo de influência maligna, sem nenhum discernimento de quem estavam de fato matando.
Eram vítimas de todo um sistema que os afastou de Deus e da revelação das Escrituras.
E ao reconhecer que ele é que eram vítimas, em vez de alimentar dó de si mesmo (como nós faríamos), Jesus teve compaixão deles.
Acredito que este é um princípio para o perdão fluir livremente. Assim como Jesus o fez, deixando exemplo, Estevão, o primeiro mártir do Cristianismo, também o fez:
“Então, ajoelhando-se, clamou em alta voz: Senhor não lhes impute este pecado”. ( At 7.60)
O perdão "a" nós mesmos
Muitas vezes, antes de podermos perdoar os outros, devemos perdoar a nós mesmos. Habitualmente somos mais duros conosco do que com os outros. Devemos recordar que Cristo nos perdoou.
Mt 22.39 nos ensina: “Amarás ao teu próximo como a ti mesmo”.
Precisamos sentir que ele nos ama e já nos perdoou. Para que isso ocorra, devemos lembrar a posição em que Deus já nos colocou: “nos fez assentar nos lugares celestiais em Cristo Jesus” (Ef 2.6).
Precisamos nos ver como somos aos olhos de Deus e não segundo os nossos incorretos sentimentos. Em Cristo está a nossa vitória.
Valor do Perdão
Perdoar é essencial ao nosso bem estar interno e ao testemunho externo da Igreja.
Sem esta prática as daninhas ervas da amargura, do ódio e do ressentimento impedirão de que representemos ao mundo, integralmente, o caráter de Jesus o nosso Senhor e Salvador. Amém.
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